Minha Filha Diabética

Uma vida mais doce após o diabetes tipo 1!

Comentários de um pai!

6 Comentários

Esse foi o assunto do email que recebi hoje. E olhem que conteúdo fantástico!!! Se 1/3 dos pais fossem assim, muitas crianças e mães e famílias inteiras estariam mais felizes. ACORDEM PAPAIS AUSENTES [não só os separados que moram longe, mas os que moram juntos e mesmo assim, parecem tão distante]. A vida passa tão rápido. Sempre dá tempo de melhorar. Surpreendam e sejam surpreendidos. Entreguem-se. Amem. Vocês podem fazer uma ENORME DIFERENÇA… mas pra isso vocês tem que QUERER.

Prezada Nicole, venho a algum tempo acompanhando o seu blog mas nunca postei nenhum comentário.  Quando descobri o seu blog fiquei tão impressionado que fui retornando as postagens mais antigas e li desde a primeira.  Através do seu blog também passei a acompanhar o da Sarah e Igor, Joana e Guilherme, Jujuba diabética, e mais recentemente o vida doce como mel e doce dia-dia.

Essa relutância em escrever algo se deve ao fato de eu ser PAI de um menino DM1 e não MÃE.  É estranho como eu não vejo nenhum comentário feito por pais apenas por mães. Será que todas as crianças doces são órfãos de pai? Porque será que os pais não se envolvem tanto quanto as mães?

Mas vamos lá:

Sou pai de um menino hoje com 12 anos que foi diagnosticado como DM1 um ano e meio atrás.  Apesar de ele estar na época fazendo 11anos e ser um menino tranqüilo e responsável foi muito difícil o recebimento da notícia, e olha que não passamos por nenhum momento muito traumático, pois ele não precisou ficar internado, minha mulher (que é a mãe dele) é nutricionista, o endócrino dele é um grande amigo meu etc…

Mesmo assim fomos ao fundo do poço, mas no fundo mesmo.  Eu particularmente me afundei geral.  Minha mulher segurou uma barra danada, mas tudo passou.

Seu blog e o da Sarah e Joana, foram de grande importância nessa minha superação, pois como era possível mães de filhos bem menores que o meu, que passaram por internações hospitalares, que tinham que administrar a pouca idade de seus filhos, as escolas, as festas infantis, as atividades físicas inesperadas e tudo o mais e ainda conseguiam manter a serenidade, a alegria e a vontade de escrever suas experiências em prol de tentar ajudar outras pessoas?

Diante disso tudo me senti um fraco, um grande covarde e pude mudar esse jogo.

Quando vejo algumas mães reclamando que os pais não se envolvem com o controle da glicemia de seus filhos, fico pensando: “como os homens perdem grandes oportunidades na vida, como jogam fora isso”.  Eu me envolvo tanto com o controle do meu filho que em muitas vezes acabo atrapalhando e minha mulher vive dizendo que eu sou PAI e que não devo querer fazer o papel de MÃE. Estou tão envolvido que minha mulher fez uma viagem ao exterior com minha filha de 14 anos e eu fiquei sozinho com meu filho por 17 dias cuidando de tudo e não tivemos nenhum problema (esse teste me credenciou para ser um bom cuidador de criança com diabetes), não tive medo algum de ficar com ele sem a presença da mãe e nem ele ficou com medo de ficar comigo sozinho. Deu tudo certo.

O que me motivou definitivamente a escrever para você foi esse seu desabafo que foi postado em 06 de janeiro e achei que seria hora de eu TENTAR retribuir tudo o que você fez por mim.

Em primeiro lugar tenho que mostrar como eu vejo a diabetes para tentarmos alinhar nossos pensamentos.

Primeiro:  Não vejo a diabetes como doença, muito menos como doença crônica.  Doença teremos sim, se não controlarmos a glicemia.

Segundo: Nossos filhos não são doentes, eles apenas tem que fazer reposição hormonal pois, não produzem o hormônio chamado “insulina”. Inúmeras mulheres quando chegam a uma certa idade fazem reposição hormonal e nem por isso dizem que possuem uma “doença crônica”.

 

Terceiro: Diabetes não mata. O que mata é a falta de bom senso.

Quarto: Diabetes controlada não baixa imunidade, não gera depressão, não engorda, não emagrece, não alegra, não entristece, não descrimina,  não faz nada, ela apenas te deixa viver normalmente como todo mundo.

Quinto: A diabetes é como uma criança, exige apenas carinho, atenção, cuidado e amor, mais nada.

Sexto: Ainda sou um pouco resistente em acreditar em lua de mel, acredito sim em padrão. Cada diabético tem seu padrão metabólico e que varia com o passar dos anos.

Vamos aos FATOS:

1 – Vc é  uma mãe dedicada – É FATO

2- Vc se esforça ao máximo a ponto de abdicar de sua própria vida em prol de suas duas filhas – É FATO

3- Vc não tem culpa ou responsabilidade nenhuma por uma de suas filhas ter desenvolvido a diabetes – É FATO

4- O resultado A1C não avalia a sua dedicação e empenho no controle da glicemia de sua filha. – É FATO

5 – Sua filha é muito mais do que uma A1C abaixo de 7%, ela é vida, emoção, alegria, tristeza, ansiedade, angustia, felicidade, amor – É FATO

6- A cura está próxima – É FATO

 

Diante disso separo nossas preocupações em 3 grandes grupos:  A NUTRIÇÃO, AS EMOÇÕES E A SOCIALIZAÇÃO.

Na parte nutricional você dá show. A influência dos alimentos no controle glicêmico é talvez a parte mais fácil, pois basta usar uma matemática sem vergonha que até uma criança entende para obtermos bons resultados (regra de três simples), diante disso a questão de comer doce ou não comer doce é totalmente irrelevante (apenas acho que doces só após as refeições e nunca isoladamente).  Basta usar o bom senso e exigir a moderação que deve ser seguida por todos, diabéticos ou não.

Na parte da socialização devemos também dedicar uma atenção especial.  Nós estamos criando nossos filhos para o mundo e não para a gente. Eles tem que sentir que são iguais a todo mundo e que não são melhores e nem piores que ninguém, não são nem diferentes por conta do diabetes e nem tem que ter tratamento diferenciado. Então em determinadas situações abrimos mão da nutrição e focamos na socialização.

Meu filho regularmente vai ao cinema com os amigos e depois do filme todos vão lanchar no MC Donalds. Sabemos que Mc Donalds é um veneno para todo mundo, diabéticos ou não (imagine minha mulher que é nutricionista), mas nesse momento abrimos mão da nutrição em prol da socialização. Ele vai, toma a quantidade de insulina rápida correspondente ao que vai comer e pronto, tudo bem.  O mais importante é ele está participando do cinema e do lanche com os amigos.

Agora sim vamos entrar na parte desafiadora, as tais EMOÇÕES.

Como manter um bom controle com a influencia das emoções? Nossa vida, nosso corpo, nosso organismo não vive só de insulina, existem outros hormônios que variam constantemente, segundo a segundo. Que bom que a vida é feita de emoções.

Hoje nos concentramos mais nas variações das glicemias causadas pelas emoções. Dependendo do jogo que ele estiver jogando no vídeo game a glicemia dele fica alta. Dependendo da quantidade de horas de sono a glicemia varia. Os hormônios da puberdade também causam variações na glicemia, stress também, ansiedade também, se bobear até alegria e felicidade causa variação na glicemia.  As coisas são tão loucas que as nossas emoções afetam a glicemia dos nossos filhos, e eles são extremamente inteligentes para perceber nossas angustias e aflições.

Hoje quando a glicemia dele fica acima do esperado para aquele momento, nunca perguntamos o que ele comeu e sim como ele está se sentindo, se está ansioso, ou preocupado com alguma coisa (notas na escola, provas, garotas, algum torneio etc.). Ele mesmo sabe quando está agitado e vai dosar sua glicemia.  Incentivamos isso para ele aprender a se conhecer (estamos tentando prepará-lo para o futuro, pois quando ele começar sua vida profissional ele realmente vai ter que controlar suas emoções).

No seu desabafo você começa dizendo:

“não sei mais o que fazer etc.. até a frase E?? nada adianta.

Como assim nada adianta???  A glicada de sua filha está dentro do limite aceitável justamente porque tudo que você faz ADIANTA SIM. VOCÊ NÃO PODERIA TER FEITO MELHOR, SIMPLESMENTE PORQUE VOCÊ JÁ FEZ O MELHOR.

Relaxa, uma A1C um pouco mais elevada não é certeza de que haverá complicações no futuro bem como uma A1C abaixo de 7% também não é garantia de que não haverá problemas no futuro.  Até porque antes desse futuro chegar a cura já chegou.

Se você acredita que sua filha é igual a todas as outras crianças e que a diabetes não a diferencia das demais, você também tem que mostrar para ela que você é uma mãe igual a todas as mães e que a diabetes não lhe faz ser uma mãe diferente das outras. Talvez isso ajude a controlar certas ansiedades dela. As mães das amiguinhas dela namora? Então você tem que namorar também. As mães das amiguinhas dela saem? Então você tem que sair também.

Outra coisa importante:

Você não FURA sua filha, você dosa a glicemia dela, você não aplica INJEÇÕES nela, você aplica VIDA nela.

Veja bem, não sou médico, nem terapeuta, nem psicólogo, minha formação é toda na área financeira, não sou especialista em nada na área de saúde física nem mental, apenas sou pai de criança com diabetes, mais nada.

Continuarei acompanhando seu blog e desejo a você e suas filhas um feliz 2011 e que Deus ilumine seu lar.

Forte abraço.

 

Autor: NICOLE LAGONEGRO

Enfermeira Educadora em Diabetes Graduanda em Nutrição Mãe de DM1 há 15 anos

6 pensamentos sobre “Comentários de um pai!

  1. Lindo Comentário!!!
    Tudo de bom!!!
    Esse é do mesmo time do meu marido!!!!
    Parabéns!!!!

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  2. Nossa! emocionou!
    Fico feliz por ter colaborado com esse pai, cada vez mais me convenço mais de que o controle do diabetes tem haver com cultura, com a capacidade do individuo assimilar conhecimento e informação.

    Pai,
    por aqui também fomos ao fundo do poço, a diferença é que eu saí e o pai do Igor ficou. Tenha a certeza de que ele pensa mais em diabetes do que eu e o Igor, nós criamos um estilo de vida, como vc mesmo coloca no texto, não consideramos uma doença, mas ele continua vendo apenas o diabetes e negando, com certeza resolveu pegar o caminho mais dificil e mais dolorido a curto e longo prazo.

    Nic,
    quanto aos conselhos dados a você é uma unanimidade, se solta mais, se permita mais, eu hoje não me vejo casada novamente, mas ja estou pronta a ter alguém para dividir a tensão do dia a dia, é biologicamente saudavel.

    beijos

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  3. Incrivel, depoimentos assim nos fazem ter ainda mais certeza que estamos no caminho certo…. E é engraçado, mas eu nunca imaginei o Gui adolescente com diabetes…. talvez porque também ache que a cura virá antes!
    Viva minha querida, seja feliz, estou aqui pra provar que é possivel recomeçar!!!!! Te adoro, bjo grande

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  4. Nossa queria que meu marido encarace o diabetes de nossas filhas assim, que aceitase pois mesmo depois de 3 anos de diabetes ele nao acredita

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  5. Este depoimento me emocionou muito e óbvio que eu fiz o meu marido ler, né? Estava ficando muito irritada com ele pois não notava pró-atividade por parte dele, eu fazia os dedinhos, aplicava as insulinas, monitorava os horários da alimentação, enfim, não tinha ninguém para dividir nem que fosse mentalmente as responsabilidades. Hoje peço para ele medir o dedinho, preparar o lanches, só não aplicou ainda a insulina. Mas vai chegar lá! E olha que é um pai super presente. A fase inicial do diagnóstio é muito difícil e cada um tem um tempo para processar tanta coisa e não vou apressá-lo.
    Graças a Deus, já conseguimos sair da fase depressiva mas vejo que ainda há muito a percorrer neste caminho. O que me contenta é que acho que estou no caminho certo e ter criado o blog, acredito, ter sido uma ferramenta maravilhosa para dar uma direção. Pois são depoimentos como este que nos impulsionam, nos dão força, coragem, nos enche de boas energias. Obrigada Pai por tão sábias palavras e obrigada Nicole por compartilhar. Se não se importarem, estarei compartilhando lá no blog.
    Bjs!

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  6. 🙂 só li hoje, e me emocionei! Disse muito! É isso mesmo, permita-se sempre mais… queria escrever um monte aqui, mas acho desnecessário diante do que já foi dito. Tenho certeza de que vc sabe o que faz e o que fazer! Torço muito por vc! 🙂
    Beijos

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